16 de maio de 2010

Rafinha Bastos fala da jornada dupla na TV e revela que é 'um cara de poucos amigos'


Rafinha Bastos sempre relacionou trabalho a prazer. Inclusive quando, bem antes de "CQC" e o novo "A liga" entrarem no ar, o comediante gaúcho deu expediente em uma empresa de telessexo, em São Paulo.

- Era o canal adulto de uma empresa de telefônica. As pessoas ligavam e ouviam histórias e diálogos, de dois minutos. Era engraçado porque a gente gravava roteiros hétero e homossexual. A gente tinha que gemer e dava muita risada. E eu ganhava superbem: R$ 150 por hora. Gravava uma vez por semana, cinco historinhas por dia, e pagava o meu aluguel - lembra Rafinha. - Você tem que ter bom humor para fazer qualquer coisa.

Assista a trecho da entrevista com Rafinha
Ainda no repertório de trabalhos feitos com prazer - e bom humor -, ele vendeu pinheiros de Natal, fez pegadinhas do programa da Luciana Gimenez e trabalhou em um supermercado vendendo camisetas personalizadas.

- Eu sou comediante - ele explica. - Tudo o que faço, seja no "CQC" ou nas histórias de sexo, tem a minha personalidade. Se acho que o trabalho realmente não combina comigo, não faço. Já neguei muita coisa na televisão. Eu não sou palhaço. Acho divertidíssimo quem é, mas isso não é parte do meu humor. Meu humor tem um pouco mais de sarcasmo e, às vezes, não é tão sutil.

Foram exatamente essas características que chamaram a atenção do argentino Diego Barredo, diretor de "CQC" e de "A liga", quando ele decidiu escalar o barbudo para integrar o elenco dos programas da Cuatro Cabezas na Band.

- Vimos que a escolha dos CQCs não estava na TV e fomos a shows de stand-up. O Rafinha, que já bombava no palco, foi o primeiro CQC brasileiro escolhido - revela Barredo. - Desde o começo, ele faria o "Proteste já" (quadro de denúncia do "CQC", no qual políticos e empresas são os alvos). E quem fizesse o "Proteste já" faria "A liga", pois são perfis similares, há um tipo de relato vivencial. Então, ele também foi o primeiro indicado para "A liga".

No ar desde o último dia 4, "A liga" tem apresentação, narração e reportagens de Rafinha, que divide as pautas investigativas com Débora Villalba, Rosanne Mulholland e Thaíde. Mais de dez anos depois de ter se formado em jornalismo na PUC-RS, ele confessa que fazer o programa lhe dá a sensação de "dever cumprido".

- Não quero me limitar a ser um jornalista sério, nem a ser um comediante. Os dois programas não se complementam como tais, mas me completam como profissional - analisa.

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Não faço TV para ser paparicado. Faço porque é um veículo fascinante. Sempre quis me comunicar com muita gente
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A dupla jornada, aliás, tem deixado o apresentador de 33 anos feliz e...exausto.

- Eu praticamente não durmo mais. Nas últimas semanas, saí do do "CQC" e fui gravar "A liga" na madrugada. As produções dos dois programas já estão tendo que desmembrar a minha madrugada!

Já suas manhãs, pelo menos quatro dias por semana, são ocupadas pelo "Proteste já", seu xodó:

- Eu realmente me envolvo. Já ouvi muitas frases como: "Você não sabe com quem está se metendo" ou "Eu sei onde você trabalha". Não quero passar a imagem de que sou o cara mais corajoso do mundo. Sou apenas um intermediador. Sempre tive vontade de cobrar das autoridades, e hoje posso fazer isso com a câmera de um programa conhecido.

Rafinha também gosta de causar (ou seria chocar?) na bancada que divide com Marcelo Tas e Marco Luque nas noites de segunda. Na passagem do roteiro, quando surge uma piada com tintas mais carregadas, ele chama a responsabilidade para si.

- Não gosto de chocar, mas gosto de brincar com esse limite estabelecido. Gosto de me colocar como o cara que tem liberdade de falar o que pensa. Quando alguém fica com pé atrás de falar alguma coisa porque é amiguinho de fulano, pego para mim e faço com prazer - diz ele.

Empenhado, Rafinha tenta respeitar a lista de nomes judicialmente proibidos de serem citados.

- Mas às vezes falo e às vezes cai processo. Já fui ao tribunal. É o preço de se fazer humor sem preconceito - pondera. - Na Band, posso fazer isso. Não fecho portas, mas pelas coisas que eu digo, não me vejo em uma emissora como a Globo.

O seu primeiro trabalho na televisão foi como produtor de um telejornal da Manchete, em Porto Alegre. Depois, apresentou um programa jovem, na TVE, e produziu outro sobre tecnologia na RBS. Nesse meio tempo, virou bicho de internet. Em 1998, quando morava nos EUA e jogava basquete universitário (o cara tem 2 metros de altura!), lançou a "Página do Rafinha", que virou hit na web. Não é de se espantar, portanto, que ele já tenha sido eleito o twitteiro mais influente do Brasil, segundo o Twitter Rank, que mede a popularidade dos perfis do microblog. Em março, ele ficou em primeiro lugar seguido por Ivete Sangalo e por Marco Luque.

- Ou seja: qual o valor disso? - desdenha. - Ranking não serve para nada. Só posso dizer que fico feliz em poder fazer TV e ter um link grande com o meu público através do meu Twitter.

Rafinha tem mesmo discurso e pose de marrento.

- Não tenho tempo e não gosto de fazer social. Não faço TV para ser paparicado. Faço porque é um veículo fascinante. Sempre quis me comunicar com muita gente - afirma - Sou uma pessoa de poucos, porém bons amigos. No "CQC", o Danilo Gentili é o cara mais próximo de mim. E Oscar Filho, com quem trabalho no Clube da Comédia.

Danilo sai em defesa do grande amigo - e futuro sócio. A dupla vai se lançar no ramo dos negócios com a inauguração de um comedy club, bar que mistura cerveja e comédia, em São Paulo.

- Rafinha é autêntico. Às vezes as pessoas acham que ele é grosso, arrogante, metido. Ele não é grosso, ele é gaúcho - resume Danilo, que segue a falar. - Outro dia ele brigou com a vizinha porque ela chamou os cachorros dele (dois pugs, o Walmor Chaguinhas e a Dercy) de feios. Ele defendeu os filhos, que são a cara dele, mas depois pediu desculpas. Ele tem bom coração.

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