19 de maio de 2010

Legendários", "Pânico" e "CQC" repetem assuntos, personagens, piadas e grosserias


Exibidos entre sábado, 15 de maio, e segunda-feira, 17, os três programas trataram dos mesmos assuntos, entrevistaram os mesmos personagens, fizeram piadas quase idênticas e mostraram grande criatividade no esforço de falar as maiores grosserias.


Até a estrutura dos três programas se assemelha, ao menos no começo. Nenhum tem início na hora programada –aguardam o melhor momento de entrar no ar em função dos intervalos comerciais da programação da concorrência.

Emissora: Record
Horário: sáb, às 21h45
Duração: 75 min
Idade: 10 anos
Ibope médio (15/5): 6 pontos
Diferencial: Tamanho do elenco

“Legendários”, “Pânico” e “CQC” começam praticamente da mesma forma: seus apresentadores saúdam a pequena plateia que está no estúdio ao vivo, um VT (vídeo gravado) apresenta as atrações do dia e, em seguida, entra um longo intervalo comercial, de cinco minutos. A duração do “break” é motivo de visível preocupação nos três programas.

“A gente vai, mas a gente volta daqui a pouquinho”, promete Emilio Surita, no “Pânico”, antes do intervalo. “O programa está mais indecente que a convocação de Grafite para a seleção”, promete Marcelo Tas, no “CQC”, antes do “break”.

Na volta do intervalo do “Legendários”, Mion implora: “Pede para sua mãe tirar da novela agora”, referindo-se à reprise do último capítulo de “Viver a Vida”, na Globo

As piadas com Dunga se repetem sem parar nos três programas. “Reserva só é bom para vinho”, diz Mion, numa referência aos jogadores que não são titulares em seus times. “A comissão técnica não quer concorrentes”, diz Surita, sobre a proibição aos programas humorísticos de entrevistar os jogadores. É a seleção do “Zangado”, diz Tas.

PÂNICO NA TV

Nosso intento aqui é só alegrar o seu domingo

Emílio Surita, sobre o programa.Neymar, a jovem promessa do Santos, é entrevistado pelos três programas. Uma mesma –e criativa– pergunta reverbera na Record, RedeTV e Band: “Você é virgem?” Neymar dá respostas parecidas. “Sou virgem”, ele responde aos três. Mas no “Legendários” é levado a dizer algo diferente, depois que Mion pede para ele falar em “off”, mas faz o público ouvir o áudio da gravação, na qual diz que não é virgem.

Os três também se igualam no mau hábito de fazer propaganda da própria emissora dentro do programa: “Legendários” exibe um clipe de “Ribeirão do Tempo”; “Pânico” fala do noticiário “RedeTV News”, enaltece a RedeTV e promete exibir uma versão em 3D no próximo domingo; e o “CQC” apresenta um clipe sobre “A Liga”.

Emissora: Rede TV
Horário: dom, às 20h40
Duração: 180 min
Idade: 14 anos
Ibope médio (16/5): 12 pontos
Diferencial: A longa duração

Recheados de anunciantes, “Pânico”, “CQC” e, em menor escala, “Legendários”, também abusam da inserção de ações comerciais dentro do programa, o chamado “testemunhal”, no qual os apresentadores falam das qualidades de diferentes produtos.

“Legendários”, “Pânico” e, um pouco menos, “CQC” também se igualam em referências e piadas com a Globo. Num quadro sobre a seleção de Dunga, o programa da Record insere críticas e ironias a Pedro Bial e Galvão Bueno. Na RedeTV, um quadro imita Luciano Huck (“Tucano Huck”) e Ana Maria Braga (“Ana Maria Magra”).

Por fim, também chama a atenção a preocupação dos três programas em fazer o que está sendo chamado de “humor do bem”, quadros supostamente humorísticos tratando de temas sérios. “Legendários” abordou o alcoolismo em sua mais recente edição; “Pânico” falou de anorexia e o “CQC” combateu o desperdício de água esta semana. Sem contar o assistencialismo, que os programas da RedeTV (com o quadro “Gorete quer ser Gisele”) e da Record (com “SuperTição”) também exploram com gosto.



CQC

O programa da família brasileira

Marcelo Tas, sobre o programa.O que diferencia os programas
Dos três programas de variedades mais badalados do momento, “Legendários” é o que mais enfatiza a preocupação com o tal “humor do bem”. “Vocês vão ver matérias questionadoras, matérias que vão deixar você pensando, matérias que vão fazer você rir”, promete Mion no início. “Ninguém segura essa galera do bem”, diz a música de abertura

Além da série de “pegadinhas” destinadas a falar dos problemas do alcoolismo, o programa também exibe um quadro de assistencialismo com toques infantis: o personagem “SuperTição” realiza o sonho de uma criança pobre –uma bola de futebol autografada pelo atacante Washington, do São Paulo.

Emissora: Band
Horário: seg, às 22h15
Duração: 120 min
Idade: 12 anos
Ibope médio (17/5): 4,4 pontos
Diferencial: A "pegada" política

Problemas vistos na estreia continuam se repetindo. De tão mal editada, uma reportagem sobre o “Red Bull Race” no Rio parece estar pela metade. A personagem “Teena” faz perguntas sem sentido para Washington Olivetto, uma pegadinha que ainda não encontrou a sua forma.

No “Pânico”, o denominador comum é o humor de duplo sentido, com conotação sexual. Do início ao fim, do “Rolê com Dicró” ao quadro com “Bicesar e Serginho”, as diferentes atrações insistem num mesmo tipo de gracinha.

As piadas com alusão ao futebol também se repetem tediosamente. Cristian Pior, numa partida de futebol beneficente, insiste em perguntas sobre “bola nas costas”, “bola pra dentro” etc. Em outro quadro, “Marília Gabriherpes” entrevista o jogador “Adricano”, que fala: “Vou meter oito gols nelas, entrar com bola e tudo.”

A longa duração do programa parece impedir que os produtores e editores do “Pânico” façam uma triagem do que vai ao ar. Quadros longos e sem graça se sucedem, como o encontro das “panicats” com jogadores do grupo Globetrotters, as entrevistas de “Tucano Huck” com atores da Globo seguidas das entrevistas de “Amaury Dumbo” com subcelebridades e as entrevistas de “Bicesar e Serginho” com freqüentadores de uma balada noturna.

O maior destaque hoje do “Pânico” é o repórter “Charles Henriquepedia”. Engraçadíssimo, ele aborda pessoas famosas e não as deixa falar – exibe os seus conhecimentos enciclopédicos sobre figuras do naipe da ex-paquita Andrea Veiga e do casal Luciano Huck e Angélica. Em outro quadro engraçadíssimo, Charles foi ao Maracanã torcer pelo Flamengo na derrota da equipe para o Universidade, do Chile.

O “CQC” se anuncia como um “resumo semanal de notícias”, mas cada vez menos trata de assuntos da atualidade. Marcelo Tas não perde a oportunidade de fazer humor de mau gosto, ao apresentar Rafinha Bastos como “a próstata mais lisinha do continente”. E insistir nas piadas sobre gays, como um programa humorístico qualquer. “Ajude a Casa do Heterossexual”, pede Rafinha. “Dê um pouco a quem não dá nada a ninguém.”

Sem o mesmo viço de outros tempos, o programa se orgulha de apresentar uma entrevista com o jogador Kaká, durante uma ação comercial da Gilette, logo depois de mostrar que a mesma empresa é anunciante do “CQC”.

Uma longa e repetitiva reportagem mostra a falta de creches em Limeira (SP). Ao final, o secretário municipal promete construir novas creches até dezembro e o “CQC” aceita o desafio de voltar à cidade no Natal para ver se o compromisso foi cumprido. Em outro quadro “do bem”, Marcelo Tas diz: “É da maior importância cuidar da água.”

Com a pegada udenista de sempre, em Brasília, a repórter do “CQC” critica os deputados que estão atrapalhando a votação do projeto “Ficha Limpa”. “Até pra emprego de gari você precisa de ficha limpa”, completa Tas. Uma reportagem sobre a “sensacional” Virada Cultural não menciona que houve uma morte no evento. E, para piorar a noitada, Tas chama um vídeo no “Top 5” e a edição exibe outro.

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