s) - Aos 31 anos, Danilo Gentili já irritou gente para uma vida toda. Que o digam os políticos de Brasília, local onde sempre marca presença com o programa de televisão CQC (segundas, 22h15, na Bandeirantes). Comandando o quadro Proteste Já, acabou agredido algumas vezes, ofendido e até censurado pela Prefeitura de Barueri (SP). No final do ano passado, com o lançamento do audiolivro do show inédito Politicamente Incorreto, em versões para download (R$ 9,90) e CD (R$ 19,90), Gentili fez mais inimigos.
No audiolivro, o humorista alfineta personalidades da política brasileira usando fatos reais. "Os políticos não devem ficar irritados comigo se acharem que eu os ofendi. Devem é aprender consigo próprios a dádiva do perdão. Quer mais ofensa do que as que Lula, Sarney e Collor trocaram no passado? Olha só hoje: são todos amigos e parceiros de negócios".
Gentili continua: "O Brasil é provinciano. A liberdade em uma província vai apenas até onde o coronel acha conveniente". Confira abaixo entrevista com o ferino - e corajoso - humorista, concedida com exclusividade à BR Press, por email:
No CQC, você passa bastante tempo no universo político de Brasília. Por que a cidade é o cenário ideal para o DVD Politicamente Incorreto?
Danilo Gentili - A escolha de Brasília para fazer um show de stand-up 100% sobre política às vésperas da eleição foi totalmente proposital. Estar no Teatro Nacional em frente ao Congresso, na sede de onde tudo o que falei acontece, acredito ter deixado o show mais especial. Além disso, tem o público de Brasília e das cidades-satélites que particularmente adoro. De tanto que vou para lá, acabei fazendo muitas amizades na capital e foi um prazer enorme compartilhar o show com eles.
Por que a escolha de um audiolivro?
DG - Esse foi apenas um dos produtos que esse show gerou. Politicamente Incorreto gerou também um livro (que já consta na lista dos mais vendidos), um DVD (que sai em fevereiro/ março) e claro, o show transmitido ao vivo pela internet, onde pode ser visto até hoje pelo UOL. O livro tem piadas inéditas pós-eleição, o DVD tem piadas que não contei no show ao vivo no UOL, além de mais de uma hora de material- extra, legendas para deficientes auditivos e legendas em inglês, caso alguém queira presentear um amigo de fora. Já o audiolivro tem o melhor disso tudo, pode ser ouvido no carro, e gosto de saber que um deficiente visual, por exemplo, pode ter acesso ao meu show por meio dele. Tentei pensar em todo mundo, até mesmo em quem não quer comprar nada. Para essas pessoas houve o show transmitido ao vivo e gratuitamente na internet.
No show você critica o PT e o PSDB, partidos opostos nas disputas das últimas quatro eleições presidenciais. Como você se enxerga na política, que partido ou ideias defende?
DG - Se não achasse o anarquismo uma utopia me classificaria como anarquista, talvez. Mas prefiro me classificar como um ateu político. Talvez um pouco mais que isso, um ateu da humanidade. Toda ideologia parte do princípio de que cada um vai fazer sua parte e não se corromperá quando chegar ao poder e isso, para mim, já é bem risível. Se toda ideologia é risível, imagine então o quão ridículo são os partidos brasileiros que nem ideologia têm.
No seu audiolivro uma das primeiras alfinetadas vai para a relação entre Lula e Roseana Sarney. Antigamente, o presidente afirmava que Roseana manipulava o povo por sua família ser dona de uma afiliada da Globo no Maranhão. No entanto, nas últimas eleições, o presidente pediu votos para Roseana. Como você analisa esse jogo político que muda opiniões para conseguir apoio, ao invés de defender uma ideologia ou ponto de vista?
DG - Se não achasse o anarquismo uma utopia me classificaria como anarquista, talvez. Mas prefiro me classificar como um ateu político. Talvez um pouco mais que isso, um ateu da humanidade. Toda ideologia parte do princípio de que cada um vai fazer sua parte e não se corromperá quando chegar ao poder e isso, para mim, já é bem risível. Se toda ideologia é risível, imagine então o quão ridículo são os partidos brasileiros que nem ideologia têm.
No seu audiolivro uma das primeiras alfinetadas vai para a relação entre Lula e Roseana Sarney. Antigamente, o presidente afirmava que Roseana manipulava o povo por sua família ser dona de uma afiliada da Globo no Maranhão. No entanto, nas últimas eleições, o presidente pediu votos para Roseana. Como você analisa esse jogo político que muda opiniões para conseguir apoio, ao invés de defender uma ideologia ou ponto de vista?
DG - A ideologia aqui é acumular poder, dominar território e conquistar currais eleitorais. A Grow poderia lançar um War Brasil com esse tema, seria perfeito. No extra do meu DVD tem uma hora que o Lula fala: "E tem gente que fica brava e acha estranho por eu estar aqui reunido com José Sarney". Percebe que discurso de canalha? Ele meteu o pau no cara a vida toda. E hoje, sou culpado por achar estranho, sou um tremendo cara do mal, porque acho estranho que o Lula esteja do lado do Sarney. A culpa é minha de estranhar isso! Acredita?
Você critica senadores, chamados de "dinossauros" políticos do Norte e Nordeste, como José Sarney e Renan Calheiros. Qual a sua opinião sobre o senado brasileiro e sua função? É uma casa que funciona ou poderia ser desativada?
DG - Acredito que o Senado funciona e bem até demais. Nenhuma outra instituição deixou seus funcionários tão ricos e imunes.
No espetáculo você cita casos de censura na mídia por influência dos políticos, como Sarney x Estadão. Porém, em 2010, o CQC também teve a veiculação do quadro Proteste Já impedida judicialmente por uma ação da prefeitura de Barueri (SP). Como você analisa a independência da mídia brasileira atualmente, na qual políticos costumam pedir a cabeça de jornalistas que lhes confrontam e até censurar publicações?
DG - O Brasil é provinciano. A liberdade em uma província vai apenas até onde o coronel acha conveniente. Já assistiu àquelas novelas do Dias Gomes e Jorge Amado? Tem a cidade provinciana, o coronel que é dono da cidade. Ele manda no prefeito, no jornal, no padre, nas mulheres. Esse é o Brasil. Por isso meu personagem preferido deste universo sempre foi o Bafo de Bode, lembra? Era um mendigo que, por estar à margem de todo mundo, enchia a cara, pegava o megafone e saia gritando as verdades que via por aí. Do jeito como as coisas são hoje, prefiro ficar às margens falando o que quero. Não vou longe assim. Eu sei. Não vou para Globo, nem vou ganhar uma medalha, mas é muito mais divertido!
Nota da redação - O audiolivro do show Politicamente Incorreto tem cerca de duas horas de duração e pode ser encontrado nas principais livrarias do país ou pelo site audiolivro.net.br.
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